segunda-feira, março 12, 2007

Graus

Primeiro vêm os pensamentos, cada vez mais centrados/dispersos, então a angústia cresce, caminha pelos braços e chega até as unhas, agora roídas até o sabugo. Arrancar a pele dos cantos do dedo seria movimento de extrema meticulosidade, não fosse tamanha a dispersão na qual ele se realiza. Neste meio tempo, manter sempre quando possível os olhos fechados, para que a mente não perca nada, pois é preciso, a qualquer custo, continuar enxergando.

E caminhar de óculos só faz piorar, plastifica a paisagem, despersonifica a cidade tão bem conhecida embaçada, despida da intimidade opaca entre a textura do asfalto e as sombras das marquises. Saber identificar detalhes nos rostos, avistar paredes e ventiladores para além das janelas mais altas, recortar minha própria figura turva que reconhece, resignada, a estranha clareza estrangeira das coisas.

É domingo à tarde na rua São Clemente, e este chão é só poça que me molha os sapatos. Esqueço-me em vitrines e listras, reparo brincos, cartazes, calçadas; sou só paisagem, olhar disperso e obviedade angustiada. Nitidez absoluta.

09/09/2006

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