quinta-feira, março 29, 2007

Giz

Só te encontro agora pó nas superfícies das coisas, resquício de saudade que eu me forço a não varrer. Fecho os olhos e tento te imaginar pálpebras, sobrancelhas, covinhas nas bochechas -- pareces sereno e sorris como no tempo em que você achava graça no meu cabelo e ria contido para que eu te percebesse sério. Mas agora me apego à detalhes, sou incapaz de diferenciar tua figura do armário, da parede ou da textura dos lençóis. Me atenho a redesenhar as esquinas do teu quarto, a cor das paredes, cada falha na pintura ou mudança na organização das coisas que naquele tempo costumavam me escapar de vista (eu era distraída contando teus sinais e assistindo tuas costas enquanto dormias). Agora calculo obssessivamente a disposição dos objetos do apartamento, sou capaz até de descrever o escuro, mas tua ausência virou tão vazio que é como quando eu acordava à noite e não sabia te dizer se tinha tido um sonho bom ou ruim.

4 comentários:

Anônimo disse...

eu sei de tudo, Constanza. Qu'est-ce que je peux faire? Qu'est-ce que je peux faire? -- Qu'est-ce que je peux faire?

Anônimo disse...

Oi constanza! Sou a irmã do gregório e gosto muito dos seus textos, de verdade!
BEijos

Anônimo disse...

Oi constanza! Sou a irmã do gregório e gosto muito dos seus textos, de verdade!
BEijos

daniel lentini disse...

a cada vez que leio este texto imagino alguma noite nossa de sono e sonhos e um ao lado do outro pra sempre aqui e lá.
daniel.

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