sábado, novembro 26, 2011

areal

é como caminhar em um chão que desaba

aos poucos

olhar a janela e estar perdido

entre concreto e gente

barulhos incertos

(todos falam ao mesmo tempo)

sentir a falta das coisas não saber bem o que

desaguar o corpo, chover

detesto dias assim

quando a melancolia entra pela porta

como um cometa ou um pássaro

sábado, julho 23, 2011

Back to earth

Embaralho os algarismos. Faço as contas, matemática nos meus suspiros (todos os teoremas são mesmo belos). Estou frágil, fugitiva, pensando como insetos que pairam sobre as frutas e os cotovelos. Escolher palavras a contar aos poucos, um, dois, três, quarenta e cinco, evito envelhecer assim um pouco maluca, um pouco grogue mas aparentemente me oriento pelos cantos e no fim assusto-me como um filhote. Gostaria de fazer sentido: no dia em que me abandonarem as palavras como eu as abandonei, escreverei com números. Também eles não farão nenhum sentido, equações estéticas, desenho abstrato. Minha inteligência é mínima, parasita, confusa. Antes não conhecesse a amplitude - não alcanço, não percebo, não descanso. Olho para fora e me sinto só. Ordinariamente só. Infinitamente clichê e com um ar tolo de tristeza (quero meu papai, quero minha mamãe). Continuo a imaginar os parapeitos, suas altitudes, ou algo que possa impedir a queda livre: ar-condicionado no caminho vertical, um salto que falha, medo da dor, olhos ao vento. Quatro segundos para chegar ao chão, um apartamento por andar, na velocidade do elevador, tornozelos frágeis sobre o frio das esquadrias, joelhos que tremem, a morte na pedra portuguesa da entrada do edifício, conhecer o centro da terra, aterrissar de cabeça e tentar sobreviver.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

travessia na transversal

Seria prudente tentar
recuperar o cheiro dos cabelos,
aceitar de volta o pacote de tristeza
embalado às pressas na cabeceira.
Mas de tudo não sobrou
nem a poeira dos móveis, lascas de
louça, estou perdida entre
semáforos e caixas de fósforo
e tudo isso é mentira,
minha vontade dorme
entre os lençóis antigos,
o rosto mole como um
pano, cigarro pisado em, nem sei,
tantas calçadas.

seguidores: