domingo, outubro 18, 2009

Helena e o raio laser

Helena não usa maquiagem, aposta nos óculos de grau e no furo de traqueostomia feito com caneta bic. Sorri, mas tem uma tristeza rápida que percorre os olhos antes que as covinhas se fixem nas bochechas. Helena não se importa em tomar a quarta vodka, limão e gelo, meia-calça preta, cabelo channel. Helena se diverte com as luzes verdes de raio laser no desespero das duas da manhã, perninhas finas como as do banco do bar em chamas, "culpa do seu whisky", ela me diz como se relinchasse.


E é com precisão quase cirúrgica que ela, lasciva, lambe a retina de um barbudo qualquer, boca nos cílios, devassa leve que sem cautela nem nojo deseja o carinho do outro - nunca provou o olho de quem realmente queria. Mas ela não se importa mais com isso: antes dança tímida libertina para qualquer cigarro que a queime na mão.

Helena não gosta de dar risadas, mas rir é um mal necessário. “Vamos embora”, bocejo, com um peso de álcool embaixo dos olhos: basta para que ela me agarre forte pelo braço e me arraste pela calçada rindo e chorando: “não”, ela me diz, gelo e limão em pedaços sobre o cimento já claro: “daqui, só vou embora quando chegar o dia”.

3 comentários:

Anônimo disse...

"antes dança tímida libertina para qualquer cigarro que a queime na mão."

Lindão, hein, Conz!

vanessacamposrocha disse...

texto espetacular!!

luizayabrudi disse...

Que delícia!! adorei o personagem e a fluidez da escrita! sensacional!

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