sábado, agosto 01, 2009

Trinta

Mentalizar o amante. Tampar o nariz com os dedos, imergir, água azul nos azulejos: trinta, vinte e nove, vinte e oito, vinte e sete, vinte e seis: mergulhar na sensação de homem/água até que ela esteja por toda a parte do corpo, maiô, boca, orelhas. Por algum acontecimento estranho e místico, virar bicho do mar, parte de tudo, azulejo, cloro, escamas. Escoar até o mar inteiro e ser todos os seus bichos e todos os seus sais. Se for possível respirar por baixo das ondas, transmutar-se em sereia e alagar todo o resto do mundo cuspindo rajadas de espuma. Assim nem todos os oceanos serão pequenos demais. Ser então eternamente possuída por aquele ser, monstro maior de todas as águas ferozes, cabelos enormes que dançam com a fúria das correntes, bocas que se encharcam, tempestade, rodamoinho abissal. Três, dois, um: emergir em anseio de ar, nos ombros sentir derreterem pesados os cabelos, bolhas no nariz. Pára e vê: só o que tens são os azulejos antigos dessa piscina abandonada, metade cheia, metade vazia, água parada, maiô desbotado. Respira, que estás sozinha agora.

2 comentários:

Pedro Henrique Ferreira disse...

Depois de conversar contigo, isto veio bem forte. Pensa como traduzir este uso seco e direto dos termos (maio, boca, orelhas; metade cheia, metade vazia, água parada, maiô desbotado; bocas que se encharcam, tempestade, rodamoinho abissal) em imagens. Sem ser literal, digo. Que espécie de imagem causa o mesmo efeito que esta escrita?

Ana Sofia disse...

Foda!

seguidores: