sábado, dezembro 06, 2008

Natal

as folhas de outono não caem
porque é dezembro, por isso
existem cigarras e assobia-se
umas notas rotas: luzes
por baixo do trânsito, tapete de asfalto,
há quem diga: a cidade gira
(desfiles de pombos), ilumina-se em
micro-lâmpadas - absurdos carnavais de luz - seis
da tarde de terça, azia de matte,
verão chinfrim.

domingo, outubro 19, 2008

Nightmare

Tem uma égua
no meu quarto.

sábado, agosto 23, 2008

Esquina

respiração alta pensamento
vertigem ao refazer o percurso casa
bar da esquina casa até que não haja mais
moedas para os vinte cigarros de cada
dia caminhar com medo pela rua deserta
até que não haja nada que me tirem até que não haja
nada nem mim mesma porque daqui já tiraram
tudo daqui já tiraram qualquer coisa que
já se pensou possível real imaginada suja
boa e ruim daqui já saiu de tudo menos

quarta-feira, julho 02, 2008

Ano-novo

Naquele dia em 1985 esperei que você entrasse no bar às onze e meia e quarenta e cinco e cinquenta e dois tomei uísque só um gole um copo seis cigarros vinte anos vestia uma saia que ia até os joelhos ao meio das coxas batão estampado cabelos colares apenas um três e a medalha de Santo Antônio segurando uma criança antônio não fez com que você entrasse pela porta do bar derramei uma duas vinte e cinco lágrimas e gotas de álcool se espalhando no balcão guardanapo deu meia volta achou caminho fiquei sem dono cachorra andei com dois com quatro mais de nove que não você.

sexta-feira, maio 02, 2008

Dia seguinte

Uma casa vazia que não é a minha. O torpor ainda no corpo. Alguns cigarros. Ainda estou doente. Ele pesa demais sobre mim.

A tinta da caneta que já quase se esgota. Mas escrevi tão pouco... Agora compreendo porquê. O li demais. Vivo uma vida que não é a minha.

Impossível dormir. O corpo pesado na cama atrapalha uma mente que pensa, pensa, pensa mas parou de escrever. Agora me leio em outra gente: um Manuel Bandeira para dias de sol, Ana Cristina César para dias de chuva, Caio F. para todos os dias. Eles me lêem, embora nunca tenham me conhecido.

Ele não gosta de mim. Ele me quer, e é só. Eu me prostro à sua disposição, deixo levar porque sou fraca e também porque amo. Ele mente. E me assusto quando, ao acender um cigarro, é a voz dele que escuto na minha cabeça. Ele é parte de mim, como toda essa fumaça.
Fazia tempo que eu não transbordava. A sensação é boa, mas romper essa membrana sempre dói. É latente, não posso viver sem. Já esqueci o limite do texto. Devo parar por aqui? Prossigo. E é sempre na pausa entre uma tragada e outra que vomito verbo outra vez. A caligrafia é precisa, como raras vezes a vi. Porque é urgente, porque ainda amo. Porque estou sozinha no apartamento completamente iluminado.

Ele me lê sem culpa. Eu só tateio as letras, buscando adivinhar. Mas ele permanece um mistério pra mim, como essas buzinas, como esses chamados, como essa janela. Devo parar por aqui.

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