domingo, dezembro 03, 2006

Perna acima

No vestiário, arrastava com os dedos a meia calça rosa: primeiro pelos calcanhares, depois pelos joelhos até as coxas, que resistiam à elasticidade apertada do tecido. Nessa hora, amaldiçoava o excesso de carne daquela região, beliscava a pele e observava cada relevo da superfície da perna. Depois, as sapatilhas: desenrolava as fitas, protegia a ponta dos dedos com um pedaço de espuma macia e aplicava-as com cuidado no pé, finalizando com um nó no cetim do tornozelo. Ensaiava uma subida nas pontas, e com alguma pressa e muitos grampos, esticava o cabelo em um coque. Em frente ao espelho da sala, escorregava os pés para cada vez mais longe um do outro, até alcançar uma posição totalmente confortável na abertura do espacato. De pé, era só ouvir o barulho abafado do gesso da sapatilha no chão de madeira e breu, batendo cadente com a valsa martelada suave ao piano. Era dia de treinar grand jetés.

Um comentário:

Anônimo disse...

ameeii

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