quarta-feira, dezembro 27, 2006

Das cinco

a lâmpada oscila esperando a
deixa -- exato iminente momento em fusão
de acender.

me alertaram quanto à hora
de verão - contudo
essa sombra contida, (e as cigarras
já mudas) não combinam mais
com tanta opacidade - luz fria
das seis.

domingo, dezembro 03, 2006

In-fotografável

cabeça baixa em banheiro público
sentir arder a quarta
quinta dose - ou mais -
não adianta forçar:
a garganta só atiça escava
até o fundo


de cada copo - ver queimar
todos os filtros de todos
os cigarros de todas
as noites de todas as lentes
quentes calçadas cores que não são
fotografáveis.

Perna acima

No vestiário, arrastava com os dedos a meia calça rosa: primeiro pelos calcanhares, depois pelos joelhos até as coxas, que resistiam à elasticidade apertada do tecido. Nessa hora, amaldiçoava o excesso de carne daquela região, beliscava a pele e observava cada relevo da superfície da perna. Depois, as sapatilhas: desenrolava as fitas, protegia a ponta dos dedos com um pedaço de espuma macia e aplicava-as com cuidado no pé, finalizando com um nó no cetim do tornozelo. Ensaiava uma subida nas pontas, e com alguma pressa e muitos grampos, esticava o cabelo em um coque. Em frente ao espelho da sala, escorregava os pés para cada vez mais longe um do outro, até alcançar uma posição totalmente confortável na abertura do espacato. De pé, era só ouvir o barulho abafado do gesso da sapatilha no chão de madeira e breu, batendo cadente com a valsa martelada suave ao piano. Era dia de treinar grand jetés.

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