terça-feira, novembro 14, 2006

Metonímia

Para escrever bonito, me ensinaram expressões grandiosas e doces. Comentaram a extrema importância de um vasto léxico e do conhecimento (profundo!) de todas as palavras. Então passei a definir com cuidado compota, cheiro, despretenciosamente, saudade e morango. Tirei tudo isso de letra, fiz direitinho a lição de casa e, em pouco tempo, eu engolia dicionários com a avidez de quem aprende a falar.
Mas logo depois descobri que me ocultaram um detalhe imenso, como só a palavra minuciosamente escolhida poderia descrever: pri-mor-di-al. O bom escritor deve saber muito mais que palavras: é preciso, antes de tudo, esquecer-se delas. E reinventá-las, ao ponto em que o sentido de saudade se mescle com o de cheiro, e assim, sem pretensão, morango e compota sejam uma coisa só. E vice-versa.

3 comentários:

Ficas disse...

aquilo que te falei do cortázar. isso.
adorei.
beijo.
primo.

Clara Mellac disse...

Humm..
Talvez antes de esquecer, ele também preciso vivê-las. Só assim ele pode atribuir diferentes sentidos às mesmas palavras..
Gostei!

Qt ao guarda-chuva, me permiti uma certa "licença poética": por mais que ele fosse grande, cheguei em casa com a calça toda molhada..

Beijos!

Alice Sant'Anna disse...

tá que tá bem bom!
gostei dessa de esquecer para saber usar. e do morango e da compota como uma coisa só.

compota é uma palavra legal, né?

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