terça-feira, agosto 29, 2006

Pequena nota urbana

Coca-cola, uns ventos e uma
da madrugada de terça
num Rio sem cristo nem bossa
da varanda aqui é só asfalto,
umas plantas
murchas
e orquídeas de plástico.

sábado, agosto 19, 2006

Unbreakable

Prova diferentes sensações, espreme cada prazer até o bagaço e mastiga um pouco da casca. Costuma pensar que ce n'est pas grand chose. É só mais um, é só uma noite, é só uma música. Não é não, minha cara, é tempo, e tempo é tempo e só, mas passa. Depois não existe mais nada atrás além de tempo passado, e de frente só tempo futuro que não passou ainda. Camiseta de alguém sem rosto, Unbreakable, ela pensa que é. Não é não, é até muito frágil, fachada de vidro. Lucky stroke. Escorregou mas ergueu-se escondida, como fumaça de cigarro americano. E sente uma quentura que vem nãoseideonde, e faz nãoseioquê, mas é forte e insiste em existir ao menos morna. Tropeça em mil cotovelos azuisvermelhosverdes dançando todos música de filme, compassada, que chega quase explodindo no meio do peito. Mas nunca chega lá, no centro. Bem aonde já não sabe mais chegar depois de tanto tempo sem quedas. Depois de queda é diferente. Mas não tem explosão, não. Tem tentativa dê. O som contorna o peito, comprime as beiradas, e a cada som-gosto-toque, a cada quadro (tombo e chão) levanta-se a espera de tempo presente, até cair. E quebra.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Concentração

antes eu era
pé-ante-pé
ensaio de passo e olhar
no chão

agora não
cansei de
concentração
deixei de ser perrapado e virei
pé-de-valsa.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Carta inventada a um meio amor

Com a ponta dos dedos, tateio de um extremo liso da superfície da chave ao outro, grosseiramente sinuoso. Engraçada essa tua mania de extremos, oito ou oitenta, me faz fazer juras de amor, me fala de posse. Meu bem, talvez você não me entenda, mas quero que você se vá, eu me vou por enquanto levando até ser digno de ti. Preciso de mim, entende? Me perdi, não consigo saber de nós dois quem é quem depois de tanto tempo, e te conheço bem a ponto de saber que agora me lês com olhar de pura descrença, até com um certo nojo. Sempre me assustei com o teu jeito tão forte, tão sensível a tudo, nada à tua volta não tem teu pleno conhecimento, sentidos múltiplos, só atenção. Eu sou só e quase reação, sempre preferi digerir aos poucos, primeiro o passo, depois a queda, em seguida o tombo, então finalmente a dor, tudo minuciosamente ruminado, quadro a quadro. Me desconcerto a cada impasse e, desastrado, analiso, desgasto, espremo cada impulso, entendo tua repulsa. Também não quero me esparramar em desculpas pra você, dizer que o problema é comigo e fugir safo como um preso solto por bom comportamento. Mas só de olhar já assusto, tantos cabelos, perfumes, bocas, é difícil te dizer isso, por isso escrevo. Não sei se falo demais e sinto de menos ou se é justamente o contrário, esse tempo frio tem a mania de me deixar confuso, mas te peço, por favor: não me faz escolher uma das pontas, não me venha com os teus extremos. Quero antes o meio termo, o morno, a parte maior das chaves, lisa e sinuosa, acidentada e precisa, pequenina e vasta.

terça-feira, agosto 01, 2006

Joaninha

que quer dizer 'carochinha'?
de que cor é a linha
do fio
da meada?
não se incomode, doutor
tô dando um'olhadinha
mas tô sem regador
onde é que apaga o sol?
cadê o homem do saco
e o pai do carrapato?
brincar com fogo não
faz fazer xixi na cama
quanto custa uma banana?
onde mora a mãe joana?

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