segunda-feira, dezembro 06, 2010

ilha deserta feelings

para Anna

o virtual guia como corrente
ar que plana o pássaro só que
o pássaro existe em penas e bico
morre um dia

ainda assim não me parece verdade
amanhecer em qualquer calçada
de bar, olhos turvos em meio-fio
enquanto anoitece
na China

domingo, novembro 07, 2010

Lição sobre o azul

o céu fica assim azul fosforescente no finzinho da tarde porque existe uma coisa chamada estratosfera e ela, que é azul, reflete a luz do sol, que fica muito inclinada em relação à cidade e aí as nuvens que se mexem muito rápido por causa das correntes de ar ficam amarelas e o céu fica vermelho por causa da poluição dos carros, e isso é porque a luz já bateu em algumas coisas vermelhas até voltar lá pra cima e também viajou um bom caminho desde lá do sol, mas ela, a luz, viaja muito rápido mesmo porque é a única que pode viajar na velocidade da luz; e é também por isso que as cigarras cantam, é porque elas gostam muito da tarde vermelha azul amarela e do ventinho que bate pra esfriar um pouco tudo, porque o sol é um grande iluminador do mundo que de vez em quando se inclina pra ele à tarde, e aí ele se enche tanto de orgulho da terra que é tão boazinha e constante e azul, que deixa ela assim toda coloridinha meio fosforescente, a gente é que não vê sempre aqui de baixo porque tem outras luzes que a gente faz e elas são muito amareladas e ocas e algumas são meio verde-azuladas mas não tem nenhuma que repete o sol porque o sol fica longe e é muito mais velho do que todos nós.

sábado, julho 17, 2010

Álbum de Verão

Uma placa ao contrário e, ao longe, vejo o rastro do avião no céu ainda azul.
O armário durante a noite, o flash da câmera no espelho e você me provoca de óculos de sol.
O criado mudo e o cinzeiro repleto.
Eu me pinto ao espelho.
A lavanderia e você ao telefone, produtos de limpeza.
Nós dois, peles vermelhas no colchão desértico.
Dois olhos grandes de gato no parapeito.
Aquele fusca e todos nós.
Nossas doses de whisky sobre o mármore, pedras de gelo, água com gás e você de branco naquele bar em Copacabana.
A vista da janela, fios que se emaranham.
Um cigarro e uma pose, cabelos muito curtos, unhas vermelhas, os carros em um borrão.
Meus óculos ao fim da tarde.
Na ruela iluminada, alguém dispara de bicicleta.
Você estica os braços e nos fotografa, sorrio e aperto os olhos.
Aquele verão sonhado, revisito no inverno: você não vai voltar.

quinta-feira, abril 01, 2010

Asfixia

Quando J.C.Clarke pôs as mãos no meu pescoço
e me espremeu como se eu fosse uma ameixa
pensei: que pena que não ordenhei
as ovelhas.

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