Para escrever bonito, me ensinaram expressões grandiosas e doces. Comentaram a extrema importância de um vasto léxico e do conhecimento (profundo!) de todas as palavras. Então passei a definir com cuidado
compota,
cheiro,
despretenciosamente,
saudade e
morango. Tirei tudo isso de letra, fiz direitinho a lição de casa e, em pouco tempo, eu engolia dicionários com a avidez de quem aprende a falar.
Mas logo depois descobri que me ocultaram um detalhe imenso, como só a palavra minuciosamente escolhida poderia descrever: pri-mor-di-al. O bom escritor deve saber muito mais que palavras: é preciso, antes de tudo, esquecer-se delas. E reinventá-las, ao ponto em que o sentido de
saudade se mescle com o de
cheiro, e assim, sem pretensão,
morango e
compota sejam uma coisa só. E vice-versa.