Tentei tirar fotografia
pelos olhos já frios
e entre a mente já gasta.
Os olhos
secos, calejados
tudo marcaram
A mente, porém,
embriagada de tão lúcida
quase nada registrava.
Os dedos roídos de angústia
batiam nervosos num balcão
e sem ritmo ou lógica
esbarravam-se em frênesi
diante de uma rala multidão
indiferente a si
e indiferente à multidão.
Os pés não cansados
já não andavam,
pairavam tortos por asfaltos,
afundavam sérios dentre poças.
Os ombros quietos sussurraram
gritando em uníssono 'tanto faz,
tanto faz...'
Como em fotografia
caía fina a fria chuva
vazia de efeito e vazia de frio
real e fosca, como cor
sorrateira, insensata,
que não se sente,
como sombra.
Peço aos olhos quadro.
Peço à mente impressão.
Peço fotografia, bem como é fotografia, bem como em fotografia:
real, muda e imparcial
alheia, turva e em preto-e-branco
bem como em fotografia.
segunda-feira, janeiro 30, 2006
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