sábado, agosto 13, 2005

Os barcos na baía balançavam, pequenos, longe sob o céu alaranjado. Sentado no píer, ele olhava, bobo, o triste entardecer. Que era aquilo que o corroía o estômago, o queimava por dentro? Até tão pouco tempo era certo de que não sabia amar. E agora, aquilo, era dor de amor? Podia ainda ouvir as palavras dela, cruas, na mente: "Não te amo mais. Vou com o outro. A gente se fala." A despedida com um beijo no rosto. A gente se fala... Falar o que? Acho que já disse tudo, amor da minha vida, a gente se fala, até mais. Já quase noite, ventou. E agora? Que era sem ela? Ah, Maria, porque me deixaste se sabias que eu era fraco? Quis levantar. Desistiu. Vai passar, que importa? Não era então a vida feita disso? Acontece. Depois vem outra, e vai outra, ou ele vai. Uma sucessão incerta de "a gente se fala" consecutivos, um tão triste quanto o outro, ou não. Mas aquela paisagem, a água, os barcos. A água, o vento. A água. Os pés acima da água. Sentiu vontade de afundar, deixar-se cair, deixar-se sumir na baía. Mais perto, mais fundo, mais fácil. Por um momento, quis, mais que tudo, cair. Mas levantou, e saiu andando à procura de um bar. A boca amarga, o passo torto, o triste andar de pierrot, cadente, ilógico. O ar cabisbaixo de um palhaço triste. E a água, o píer, o céu laranja e ele, exaustos, anoiteceram.

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